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Antes que a quarentena acabe: um manifesto a favor da real mudança para os tempos que virão.

31 de maio de 2020 • Categoria: M. Simeão opinaSua essência na vida

Estávamos a 200 por hora. Parada brusca, não executada voluntariamente por nós.

Necessidade de assimilação, readaptação, reformulação de antigos hábitos para a nova rotina que se formava.

Com resistência, frustração, brigas, desconfortos e esforço, finalmente fomos conseguindo aceitar a mudança que a nós foi imposta.

Lembrete seja dado: nossa digníssima capacidade humana de adaptação, nos permitiu que seguíssemos a dança das cadeiras e, vamos confessar, até gostamos de alguns aspectos dessa mudança. Como diz o ditado, em alguns aspectos, saiu melhor que o previsto*.

Só que, após viver algo tão maluco, nunca vivido antes, não podemos sair de cena com a mesma roupa que entramos. O mundo não é o mesmo e nem nós somos os mesmos. Seria ironia, querermos viver com os mesmos hábitos em um mundo que já não é igual ao que deixamos em março de 2020.

Como já dizia Darwin, não é o mais forte, nem o mais inteligente que sobrevive, é o mais adaptável (e o mais de boas rsrs).

E haja adaptação.

Na eminência de voltarmos ao novo cenário, não é preciso ser vidente para prevermos que passaremos também por mais um baque de adaptação.

Que tal, dessa vez, usarmos a experiência anterior como referência para nos ajudar nesse déjà vu?

Olhando para trás, pensemos sobre o que nos ajudou a lidar com tudo isso.

Trocando em minúsculos miúdos: foi a capacidade de nos mantermos no presente.

Parece simples? Vejamos.

Viver no presente envolve:

1) Lidar com tudo que ele nos traz;

2) Aceitar o que não temos controle;

3) Buscar soluções para o que podemos mudar.

Lidar com tudo que o presente nos trouxe

Sentimos medo, raiva, ansiedade, brigamos, endoidecemos, desendoidecemos. Quem não, que atire a primeira pedra.

Mas também sorrimos, valorizamos o essencial, recalculamos nossas reais necessidades e rotas, nos aproximamos de familiares que dividíamos o mesmo teto – aqui, não falo daquele primo de idade distante, falo de pais, filhos, irmãos, casais.  

Resgatamos hobbies, reativamos sonhos adormecidos, descobrimos talentos, aprendemos receitas novas, dançamos na sala de casa curtindo lives, descobrimos novos passatempos, comemoramos aniversários pelo zoom à distância, fizemos chárreata, praticamos a caridade, a empatia, pensamos no outro, nos arriscamos em nome de nossa profissão (aqui, me refiro principalmente aos profissionais de saúde e a todos que estiveram à frente na era COVID-19).

Fizemos coisas incríveis.

Em nossos trabalhos, nos descobrimos produtivos não por ter alguém nos observando, mas pelo compromisso com o resultado. Nos fortalecemos como equipe, aprendemos estratégias mais saudáveis e respeitosas no relacionamento interpessoal, fomos criativos, descobrimos ou finalmente nos apropriamos do potencial do mundo digital, mudamos o foco da concorrência para olhar para dentro de nossas organizações e oferecermos o melhor que podíamos para nossos colaboradores que estavam perdendo seus familiares, fomos socialmente responsáveis e, sem dúvida, após atitudes embasadas em valores, fortalecemos o nosso relacionamento com nossos clientes.

Acreditem! Haverão empresas que sairão dessa muito mais fortalecidas do que quando entraram.

O poder transformador da crise encontra-se justamente nos elementos citados acima: na capacidade de irmos até o fundo do poço e ativarmos nossas redes de apoio e recursos de resiliência. Ou criá-los.

Foi um salto coletivo, a ponto de estudiosos referirem as transformações destes 5 meses (março a agosto) como sendo equivalente ao que aconteceria em 5 anos. No mercado, na educação, na consciência coletiva, nas relações e no autoconhecimento.

Aceitar o que não temos controle e buscar soluções para o que podemos mudar.

Olhar para o passado e temer o futuro, faz parte do processamento de um presente que nos mostra sombrio; congelar-se nessas esferas, só faz tudo ser mais duro.

Por isso, busquemos aliar a aceitação com a sede de mudança.

Que tal aceitarmos o que não podemos mudar e buscar soluções para o que está em nossas mãos? Nos recriando, reivindicando, dialogando, nos transformando…

Por isso, antes que seja tarde, pratique esse manifesto a favor da real mudança para os tempos que virão.

Como dizia o grande Belchior, “o passado”, aqui situado como o tempo antes da quarentena, “é uma roupa que não nos serve mais”.

OBS: Esse texto não tem o intuito de desqualificar a árdua e dura jornada daqueles que perderam familiares, tampouco dos que diariamente estiveram tensos trabalhando nos hospitais e laboratórios com receio de serem infectados. Aqui, mostro apenas um ângulo da pandemia, que está longe de ser o único. Trago o ângulo dos possíveis aprendizados que podem ser extraídos dessa tempestade. Pessoas que se veem imersas na dor, na tensão e no sofrimento, podem ainda estar em fase de assimilação. Cada dor é individual e única. E lembre-se, um profissional pode lhe ajudar nesta jornada rumo à resiliência.

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