Blog

Nunca deixe que o teu conhecimento cegue a tua humanidade

7 de abril de 2022 • Categoria: Sem categoria

Extremismos de qualquer natureza e em qualquer contexto me soa aversivo. Antipatizo e, quando vale a pena, questiono.


Foi o que presenciei ontem numa consulta médica. Eu era a paciente.


Diferente de outras ocasiões que testemunhei esse tipo de posicionamento, esta, em vez de estar apenas no campo das ideias diferentes das minhas, chegou em mim como desrespeito, uma baita de uma ignorância e uma grandessíssima falta de sensibilidade.


Te conto…


Procurei uma médica homeopata para investigar uma alergia atópica que apareceu em meu rosto. Não quis aderir à medicina tradicional neste momento, por não querer tratar apenas do sintoma e nem querer que a alergia voltasse muito em breve. Buscava por algo que tratasse de forma mais holística e que fosse mais natural.


Cheguei até essa médica.


Na consulta, pergunta vai, pergunta vem, que por sinal acho interessantíssimo a diversidade de perguntas que esses profissionais nos fazem para entender sobre aquele “simples” sintomas…


E ela chegou à pergunta: “você toma algum medicamento?”


Após a minha resposta afirmativa, acompanhada dos nomes dos 2 psicofármacos que uso, mais algumas perguntinhas capciosas…


“Desde quando você toma?”
“Até quando você vai tomar?”
“O que você pensa em fazer com isso no futuro?”
“Você se vê tomando medicamento até quando?”


E em seguida uma “homilia” (me desculpe, meu Deuzim, pela metáfora) sobre os efeitos negativos desse tipo de medicamento no corpo, incluindo os efeitos colaterais e, pasmem, a dependência química que eles causam. Ela colocou todos os psicotrópicos num bolo só.


Gente, há poucos minutos atrás, ela havia me perguntado se eu me irritava facilmente. E eu havia dito que não. Rsrs Eu já tava me perguntando se eu fui fiel na minha autoanálise para responder que não. Porque nessa altura eu já tava puta da vida com a ignorância de uma ser humana da área da saúde que não só acha que todos os psicofármacos causam dependência como mantém esse discurso com os pacientes dela.


Como contei para vocês, me questionei se nessa ocasião eu estava me irritando com facilidade ou se eu estava diante de um baita absurdo e ignorância, digno de deixar uma paciente que estava se sentindo desrespeitada, com muita raiva. Meu sentimento era válido ou não? Era o que eu me perguntava.

Mas vamos entender melhor como cheguei nesse pico.


Diante das falas da médica, tentei inicialmente dialogar na base da informação, falando sobre a diferença dos medicamentos de nova geração, do meu conhecimento sobre os efeitos colaterais (que era o que ela alertava). Diante de suas respostas que interrompiam a minha fala pela metade, isso me deu indícios que havia mais de 1 pessoa naquela sala irritada rsrs. A partir da compressão de não aceitação da minha fala, resolvi me posicionar de forma mais veemente.


Após duas interrupções perguntei abertamente a ela se eu poderia falar. Ai, meu bem, eu falei com classe, mas eu falei com fervor e confiança do que eu estava falando. Eu tinha conhecimento de causa como paciente e como profissional da saúde, além de uma forte experiência individual sobre a minha relação com esse tipo de medicação, que nem sempre foi amigável e de aceitação.

Foi mais ou menos assim…


“Dra. Fulana, eu tenho conhecimento dos efeitos colaterais desse tipo de medicamento. Eu não pretendo tomar essa medicação para sempre, mas HOJE eu preciso dela. Não é uma opção para mim retirá-la (adicionei também informações sobre o meu acompanhamento e posicionamento do meu médico). Meu médico e minha terapeuta, inclusive, identificaram uma causa biológica (endógena) no meu quadro (há outros casos de depressão na minha família). A questão é que, se eu tivesse lhe contando sobre uma medicação para pressão, por exemplo, o questionamento de até quando eu vou tomar não viria ao caso, porque se entende que a condição biológica pede a medicação. Inclusive, já tive fases no passado em que questionei o uso da medicação, mas hoje eu já entendo e aceito como uma condição minha e por isso preciso dela”.


Claro, ela seguiu defendendo a posição dela, justificando por meio da teoria/método. Disse que se eu tivesse falando de uma medicação sobre pressão, também seria papel dela informar e alertar para os efeitos, por ela ser uma médica que trabalha com as diversas dimensões e etc, etc, etc…

Não, aquilo não me pareceu uma informação inofensiva…


Uma informação responsável perpassa, antes, por investigar mais a fundo o contexto que levou o paciente a usar e manter a medicação.


Perpassa, antes por imaginar como essa informação pode impactar o paciente.


Perpassa, antes, por ter uma visão crítica para conhecer outras abordagens e não se fechar em sua “igrejinha”. Aqui, diferencio a adesão à medicalização a torto e a direita para o uso responsável de medicações para quadros que a demandam.


Perpassa, também por averiguar se ela reproduz um discurso estigmatizante sobre o paciente psiquiátrico.


Perpassa, antes de mais nada, por enxergar o paciente, e apenas depois enxergar o conhecimento/a técnica que você usa.


Depois de me expressar e dela se posicionar, a consulta prosseguiu e os ânimos se abrandaram.

Ao sair do consultório, entrei no carro e sai de lá lembrando do que acontecera… Contactei meus sentimentos: sai com raiva, mas sai satisfeita por ter me expressado sem desrespeitá-la. ùde estabelecer limite ao desrespeito que senti.


E por sinal, a bendita da alergia intensificou nesse dia à noite. Sabe Deus se foi o chocolate que comi (leite é inflamatório) ou a raiva que passei no consultório da doutora que viria a me ajudar com a tal da alergia rsrs.


Ironias da vida.

Continue lendo

Fique por dentro de todas as últimas novidades do nosso blog.

Romae