O relacionamento acabou, mas você não (texto 2 de 2).
Nesta semana, compartilhamos com vocês sobre as fases do luto amoroso e as estratégias que podem auxiliar uma pessoa a superar a dor da perda (link AQUI)).
Conhecer as fases do luto, pode nos situar sobre a compreensão desse processo, nos auxiliando a entender que aquele sentimento, que ora pensamos nunca conseguir superar, é passageiro.
Sobre as estratégias que podem nos auxiliar a superar a dor, aprendemos que não há uma receita de bolo a ser seguida. Embora alguns autores levantem algumas estratégias que podem ser muito úteis, cada ser humano carrega um universo interno único e deve procurar dentro de si as suas saídas.
E agora, vamos conhecer sobre os fatores que podem interferir positiva ou negativamente na recuperação após uma ruptura amorosa? Lembremos: esse tópico também não se trata de um mapa pronto e acabado.
1. FATORES QUE INTERFEREM NA RECUPERAÇÃO
Vejamos o que o autor Locker & colaboradores (2010) tem a nos ensinar:
– Quem foi o primeiro a buscar o fim do relacionamento: aquele que tomou a iniciativa para romper o relacionamento tende a se recuperar mais rapidamente, talvez por já vir pensando sobre os possíveis problemas, soluções e planos antes da ruptura propriamente dita.
– Apoio social na recuperação emocional tende a aumentar se existe ajuda de amigos e pessoas queridas. Os estudos têm demonstrado que as mulheres tendem a ter uma rede de apoio social mais extensa que os homens, enquanto estes tendem a confiar mais em suas companheiras para obter apoio social.
– A necessidade ou não de contato com o companheiro após a ruptura: as pessoas que precisam manter contato com os ex possivelmente terão mais dificuldades em extinguir os sentimentos negativo direcionados a essa pessoa.
– O número de relações anteriores: o número de relações anteriores ao rompimento pode sinalizar uma percepção de que pode ser fácil encontrar umx novx companheirx, ou seja, as pessoas que tiveram outras relações anteriormente podem pensar que não será difícil encontrar alguém, enquanto aquelas que tiveram poucos relacionamentos tendem a antecipar uma dificuldade em encontrar outrx companheirx. Portanto, a crença de que podem encontrar outra pessoa colaboraria positivamente com uma melhor adaptação à ruptura amorosa.
– A duração do relacionamento: quanto mais tempo durou a relação, entende-se que o companheiro mais contou com seu parceiro para preencher as necessidades emocionais do dia a dia. Então conclui-se que será mais difícil evitar os pensamentos negativos sobre seu ex companheiro, já que muitas de suas recordações e rotinas diárias estavam entrelaçadas com as da outra pessoa.
– O tempo compartilhado juntos durante a relação: pelo mesmo motivo acima citado.
Lembremos. Conheço casos que se configuram exatamente como o contrário do que está mencionado acima. Ao falarmos em seres humanos, é muito difícil categorizarmos e criarmos regras de comportamento. Uma série de pontos complexos interferem na teia que irá desencadear emoções e comportamento. Por isso, seria muito simplório falarmos em regras quando nos referimos a pessoas.
2. CRESCIMENTO PÓS-TRAUMÁTICO
Outro ponto interessante sobre o processo do luto amoroso é que, dependendo de como passamos por esse processo, podemos CRESCER e NOS DESENVOLVER emocionalmente.
Usemos as oportunidades que a vida nos presenteia para nos conhecermos e crescermos!
O que posso aprender com esta experiência? Qual espaço eu permitia que essa pessoa ocupasse em minha vida? O que esta experiência fala sobre mim? Como está a minha vida? Como eu gerencio a minha vida com e sem essa pessoa?
O processo de crescimento pós-traumático começa com a desestabilização do nosso “mundo de suposições”. Este “mundo de suposições” refere-se à nossa forma de nos percebermos e percebermos o mundo.
Durante um evento estressante, nossos paradigmas são desafiados e o crescimento pós-traumático surge a partir do enfrentamento que temos diante da nova realidade que é apresentada a nós.
A partir dessa desestabilização, dependendo dos recursos que utilizo e da forma como conduzo esta experiência, começa o processo de reconstrução de um novo e possivelmente melhor “mundo de suposições”, o qual põe em evidência o processo transformativo que implica o crescimento pós-traumático. E sim, a psicoterapia pode lhe ajudar nessa etapa.
O crescimento pós-traumático corresponde a um processo, que implica numa série de sucessos caracterizada pelo sentido de crescimento, fortalecimento e uma percepção de mudanças positivas.
Alguns autores mencionam que ele engloba 5 domínios do crescimento, sendo eles:
1) Uma maior apreciação da vida e uma mudança nas prioridades;
2) Relações mais íntimas e próximas com pessoas que são importantes;
3) Um maior sentido de força pessoal;
4) Reconhecimento de novas possibilidades e caminhos na vida;
5) Desenvolvimento espiritual.
E você, o que pode aprender com esta experiência? Como podemos utilizar esta etapa de sua vida para extrairmos aprendizados e crescimentos? Acione as suas forças (ou as desenvolva), entenda que os momentos difíceis existirão, tenha paciência e extraia os aprendizados possíveis desta fase. Quem sabe, você sairá dessa etapa ainda mais forte do que como entrou.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Caro, A. C. B. (2011). Cuando se acaba el amor: Estratégias de Afrontamiento, Duelo por Pérdidas Amorosas y Crecimiento Postraumático en estudiantes universitários. Trabalho de conclusão do curso de Psicologia, Colegio de Artes Liberales — Universidade San Francisco de Quito, Ecuador.
Gadanho, T. F. P. (2014). Relação entre estratégias de coping e resiliência após a vivência de um acontecimento potencialmente traumático. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Psicologia — Universidade de Lisboa, Portugal.
Garcia, F. E. & Martinez, D. I. (2013) Ruptura de pareja, afrontamiento y bienestar psicológico en adultos jóvenes. Ajayu 11 (2), 157–172.
Locker L., McIntosh, W., Hackney, A, Wilson, J. & Wiegand K. (2010). The Breakup of Romantic Relationships: Situational Predictors of Perception of Recovery. North American Journal of Psychology, 12 (3), 565–578.
Valladares, M. (2011). Crescimiento personal a partir de una ruptura amorosa: um estúdio de caso a través de la terapia humanista y existencial. Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia. Universidad San Francisco de Quito, Ecuador.
Em 06/06/2018.