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**Paradoxal e libertador: ACEITAR para MUDAR**

5 de setembro de 2016 • Categoria: Partilha que inspiraSua essência na vida

Esse texto vai para os Psicólogos, Estudantes de Psicologia e curiosos de plantão sobre a psique. 

 Volta e meia, em sessões de Psicoterapia ou mesmo em Consultorias, me pego dialogando com pacientes/clientes sobre a seguinte ideia: para mudar é preciso, primeiro, aceitar.

 Você, assim como eu, ao escutar essa frase deve ter se questionado: Como aceitar algo que quero mudar? Se quero mudar é porque aquilo me incomoda e quero dar fim a isso (rápida e definitivamente!).

Entendamos a dialética da mudança (e da permanência).

Aceitar não significa pegar aquele sentimento, colocar debaixo do seu braço e andar com ele como se fosse o seu melhor amigo. Isso se chama fusão ou no máximo trata-se de uma relação de “apego” ao problema (algumas vezes utilizado como mecanismo de defesa).

E o que é um mecanismo de defesa? É uma maneira criativa e rápida que a nossa mente encontra de poupar um sofrimento e lidar com algo que ela própria teria dificuldade para suportar. Freud já dizia isso, Perls pegou emprestado, a TCC fez algumas modificações e os neurocientistas deram uma nova roupagem agregando algumas pesquisas que comprovam cientificamente o que outros autores já tinham constatado na prática clínica. Resumindo, a nossa mente “se defende”, encontrando uma maneira mais “legal” e “econômica” (em termos de energia mental) de lidar com a realidade.

Mas é ai que surgem os problemas mantenedores.

Eu não consigo PERCEBER que aquilo me causa um problema, portanto não consigo RESOLVER, ao passo que começo a me IDENTIFICAR com aquela forma de agir e ser, e passo a utilizá-la, sem perceber, como minha aliada para obter ganhos secundários. E o ciclo se fecha e se autorreforça.

Aceitar também não significa escolher conviver com aquilo tentando a todo custo desviar o olhar. Isso é NEGAÇÃO ou EVITAÇÃO. A negação é utilizada quando omitimos para nós ou para outros a existência daquele sentimento. Uma maneira corriqueira de conseguir isso é me encher de outras tarefas para “esquecer” algo que me causa dor, sem observar os meus processos mentais e sem tentar entender o porquê de eu estar sentindo aquilo ou agindo daquela forma.

Usando esse mecanismo, eu estou tamponando a dor com algo que ficará em cima dela e elas co-existirão. Fumar excessivamente, beber excessivamente, comprar excessivamente e tantos outros excessos são formas de fugir do problema, mas também da resolução dele. 

 Entendamos a “esperteza” da nossa mente quando utilizamos a Negação ou Evitação.

Aquele sentimento continuará presente, ainda que temporariamente adormecido. Infelizmente nossa mente ainda não encontrou um mecanismo de fazer com que nossos problemas desapareçam como num passe de mágicas. Ele se alocará em um espaço de nossa psiqué que se mistura a outros componentes psíquicos anteriormente postos também ali (memórias, experiências, sentimentos, recortes incompreensíveis). E dá no que dá: a mensagem psíquica voltará mais forte e quase sempre camuflada, pois ao “pegar embalo” naquele lugarzinho, trouxe junto com ela outros componentes que ali também estavam. Assim, eles retornarão sem conexão aparente com o sentimento primário que o gerou (exemplo: passo a comer desenfreadamente, a apresentar dificuldade nos estudos, sentir ansiedade, etc). Por isso que o tratamento de nossas dificuldades emocionais não deve ter como objetivo o simples cessar dos sintomas. Isso é superficial e pode gerar apenas um deslocamento. Tampa aqui e descobre ali, sabe? Por isso também a importância da terapia pela fala! Dar significado, conferir contorno, organizar, deixar sentir, experimentar a terapêutica que existe na relação paciente-terapeuta e, sempre, tomando como base um arcabouço teórico que te oriente. Aquela velha história de que a viagem (o processo) é mais interessante que o destino (o resultado final). O destino não seria possível se não fosse o caminho traçado até chegar lá.

Compreendamos: quando não olhamos para a real situação (o que está na base) ou não aceitamos um sentimento (por exemplo, de raiva, de ciúmes, de perda) a energia utilizada para abafa-lo (que vai contra o fluxo natural) agrega-se à energia mobilizadora que gera o sofrimento (a que está a favor do fluxo) e, assim, intensifica o mal estar. Por isso que, na batalha da “mudança a todo custo”, quando evitamos sentir estamos, na verdade, intensificando ainda mais aquilo contra o qual lutamos, nos aproximando do problema e nos afastando da solução.

Tá doendo? Deixa doer até que a dor se transforme em energia potencializadora. É o teu corpo comunicando que algo não vai bem e precisa ser reajustado. Um valor está sendo esmagado, um incômodo está sendo sinalizado, uma mudança pessoal está precisando ser feita…

Quando buscamos evitar a dor, estaremos ainda descartando uma oportunidade de aprendermos sobre nós mesmos quando a mensagem psíquica nos diz: “Ei, algo não está indo bem e você precisa olhar para mim. Eu sou o seu problema metaforizado”.

Eu, você, aquela pessoa que você admira em todos os sentidos, já passou por isso e provavelmente ainda passará. É um mecanismo que, sim, pode ser o melhor e o único possível naquele momento. É uma forma de ajustar-se à realidade. Passa a ser um problema quando essa passa a ser a forma que tenho de encarar o mundo, utilizando-a sempre! Fugir ou identificar-se não favorece a conscientização e a aceitação para a mudança. 

 Para a alegria de todos, existe um caminho às vezes mais incomum, mas mais sereno, frouxo, fluido. É o motivo pelo qual escrevo. Falo do caminho da ACEITAÇÃO. Aceitar significa reconhecer plenamente os sentimentos envolvidos, é nos permitir a autenticidade do que se sente, ainda que aquilo possa parecer pequeno, vergonhoso, estranho. É dar-lhe expressão honesta.

É transformar a energia potencialmente sufocadora em energia plenamente transformadora. É aprender com as mensagens gratuitas que a vida nos presenteia e nos oportuniza. É compreender a sua natureza, a sua expressão, o que há por trás. Tomar consciência do fluxo, para utilizá-lo como energia criadora. Às vezes dói, mas sempre é aliviante.

Com a flexibilidade na aceitação de si mesmo, dando vazão aos seus sentimentos, sem violar as suas leis de equilíbrio, você estará dando sinal verde para as suas polaridades e assim terá a capacidade de transcendê-las, ao buscar com responsabilidade a coerência entre o seu estado atual e o seu vir-a-ser.

Por Marina Simeão

Em 05/09/2016

*Texto baseado em experiências profissionais, pessoais e estudos de Psicologia e Pathwork da Psicóloga Marina Simeão.

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