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Posso fazer psicoterapia com uma amiga? – Texto 1 de 3

15 de junho de 2020 • Categoria: Liga de Aprendizagem ColaborativaM. Simeão explicaSua essência na carreira

🌸 Algumas pessoas que não são psi já me trouxeram um questionamento que faz muito sentido: “Poxa, eu já tenho intimidade com minha amiga, me sinto mais à vontade para abrir sobre minha vida com ela e menos para um desconhecido. E o melhor, ela já conhece minha história. Por que não posso fazer psicoterapia com ela?”⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

🌸 Exatamente pelos mesmos motivos que parecem justificar a procura da amiga, acrescentando um “grande detalhe”: caso queiram AJUDAR EFICAZMENTE os seus amigos e familiares, na maioria dos casos, o psicólogo deve escolher outro meio que não a prestação de seu serviço psicoterápico*.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

🌸 Aqui vão 4 motivos. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

〰️ A escolha de intervenções qualificadas e apropriadas dependem diretamente da capacidade do psicólogo de minimizar ao máximo a possibilidade de que seus princípios pessoais interfiram na qualidade de uma escuta inteira e “neutra”**. 
〰️ Se temos um vínculo anterior próximo com o futuro paciente, não se trata de uma questão de “profissionalismo” separar as coisas. Você é humano e profissional o suficiente para envolver-se em situações que te tocam em sua vida e também para encaminhar seu amigo/familiar para aquele colega MARA que você também faria terapia com ele, se não fosse amigo dele.
〰️ Mais que o fato em si, é a narrativa e a experiência da pessoa que será foco de nossa intervenção. Será que pontos-cegos, devido à nossa relação anterior, não atrapalharão a nossa compreensão integral?
〰️ E se, fora do espaço terapêutico, em meio ao processo de terapia, algo acontece na nossa relação pessoal? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

🌸 Para finalizar, nosso conselho profissional NÃO proíbe tais condições de atendimento. Ele põe nas mãos do próprio Psi a decisão sobre a análise da interferência negativa ou não frente aos objetivos do processo.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

🌸 Considerando que tratamos com gente, dificilmente uma única resposta ou receita de bolo seria suficiente para responder eficazmente a todos os casos. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

🌸 Portanto, diria que, caso tenha uma relação próxima à pessoa ou às pessoas do convívio do possível paciente, recomendaria o encaminhamento.

*Escuta neutra: Quando falo em escuta neutra, trata-se de uma prática que nos fundamenta enquanto psicólogos, que não é sinônimo de frieza, distanciamento. Pelo contrário, trata-se de uma tentativa de suspensão de nossos a prioris para escutarmos com o nível máximo de aceitação. A prática terapêutica vai dando o compasso e favorecendo o desenvolvimento dessa habilidade. Mas me sinto também inclinada a compartilhar que a neutralidade total não é viável na vida real. Por isso, há casos, que pode ser ético e recomendável encaminhar seu paciente para um colega, já que a escuta pode estar sofrendo interferência por algo muito familiar que ressoa dentro da gente: é quando a questão do paciente guarda muita proximidade com nossas questões latentes e ainda não totalmente resolvidas. Sejamos éticos. Sempre.

**Fonte: https://www.psicologiamsn.com/2014/09/por-que-psicologo-nao-pode-atender-amigos-e-parentes.html

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